Olhando a situação atual da pandemia do coronavírus, podemos perceber o quanto a morte causa medo, e até mesmo desespero nas pessoas ao redor do mundo. A sombra da morte é algo presente no nosso dia a dia, porém, após as melhorias sanitárias e médicas que vêm ocorrendo ao longo das décadas, temos perdido o contato com um aspecto sagrado e intrínseco da vida humana: a impermanência.
O resultado de perder esse contato é que o ser humano passa a sentir-se dono da vida, do mundo e, até mesmo, das pessoas ao seu redor. O todo poderoso humano se sente no direito de fazer o que quiser. Esquece-se de sua conexão com o sagrado e nem a busca, em verdade, pois a religião passa a ser mais uma reafirmação social e de dogmas, do que a busca sincera pelo amor divino presente em nossos corações.
Quando nos deparamos com a morte, seja ao saber do falecimento de um ente querido ou da morte de um amigo que encontramos na semana passada e hoje vamos ao seu velório, nossa mente recua. O ego recua. Primeiramente sente medo: “isso pode acontecer comigo também” – e pode realmente. Se utilizarmos esse momento para soltarmos nossos apegos e neuroses com relação à nossa realidade, temos a oportunidade de acessar o infinito e eterno dentro de nós – um que não tem nome, nem precisa ter; um que não tem preocupações, nem precisa ter; um que não nasce e não morre. Quando percebemos isso, já teremos “morrido “e renascendo para nossa verdadeira natureza.
Antigamente, éramos assolados com mais pestes, guerras, fome e morte do que atualmente, o que nos fazia olhar, mesmo que primeiramente motivados por medo, para nosso interior e para o que há além da vida ordinária da sobrevivência. É por isso que vejo, nesta situação da pandemia, um momento que pode ser utilizado com intensidade para nossa evolução espiritual e expansão de consciência.
Não se sinta culpado(a) se estiver com medo. Isso faz parte, é natural. Mas utilize-o para ajudar você a soltar este mundo de aparências. Essa situação só nos ajuda a lembrar que tudo passará, tudo acabará, inclusive nosso corpo, porém não a consciência mais profunda. Silencie-se, ore, encontre seu refúgio no sagrado interior, lá você não estará seguro, porque perceberá que o conceito de segurança é falso, mas poderá desfrutar da imensidão que é a vida interior. Medite e desfrute do que já está ao seu alcance, sempre esteve: a alegria e paz verdadeiras, basta acessar, basta aquietar.
Luís Fernando Rostworowski