Se quiser fazer alguém feliz, você deveria se colocar essa questão: “Será que eu o compreendo o suficiente?” Muitas pessoas relutam em falar por terem medo de que aquilo que elas vão dizer será mal interpretado. Há pessoas que sofrem muito; elas não são capazes de nos contar sobre o sofrimento que carregam dentro de si. E temos a impressão de que nada está errado – até ser tarde demais. 

Esperar tem sérias consequências. As pessoas podem se isolar, podem terminar uma amizade ou um relacionamento de repente e podem até chegar a cometer suicídio. Algo incomodou aquela pessoa durante muito tempo, mas ela fingiu que tudo estava bem. Talvez o medo e o orgulho tenham entrado no caminho. Quando escutamos e olhamos com plena atenção e concentração, podemos descobrir que há um bloco de sofrimento naquela pessoa. Vemos que ela tem sofrido muito e não sabe como lidar com o sofrimento interno. Por isso, ela continua a sofrer e a fazer outras pessoas sofrerem. Quando percebe isso, de repente sua raiva não está mais presente. A compaixão aflorou. Você tem o insight de que essa pessoa está sofrendo e precisa de ajuda, não de punição.

Se precisar, pode pedir ajuda. Você pode dizer: “Querido, quero compreendê-lo melhor. Quero compreender suas dificuldades e seu sofrimento. Quero escutá-lo, pois quero amá-lo”. Ao nos permitirmos o tempo necessário para olhar mais profundamente, podemos ver pela primeira vez o grande bloco de sofrimento existente naquela pessoa. Talvez alguém finja não estar sofrendo, mas isso não é verdade. Quando você é capaz de escutar compassivamente, outras pessoas terão oportunidade de contar sobre suas dificuldades.

Não importa qual seja o tipo de relacionamento, talvez você queira averiguar se realmente compreendeu a outra pessoa. Em um relacionamento harmônico, onde a comunicação é boa, a felicidade está presente. Se a comunicação e a harmonia existirem, significa que a compreensão mútua está presente. Não espere até que a outra pessoa tenha ido embora ou esteja cheia de raiva para perguntar a importante questão: “Você acha que eu o(a) compreendo o suficiente?” A outra pessoa vai lhe dizer caso você não a tenha compreendido o suficiente. Ela saberá se você está apto para escutar com compaixão. Talvez você queira dizer, “Por favor, diga-me, por favor, ajuda-me. Pois sei muito bem que, caso não o(a) compreenda, eu cometerei muitos erros”. Essa é a linguagem do amor.

A pergunta “Você acha que eu o(a) compreender o suficiente?” não deve ser usada apenas para relacionamentos românticos, mas para amigos, membros da família e qualquer um que seja importante. Pode até ajudar no ambiente de trabalho. Se você viver com um membro da família, um parceiro romântico ou um amigo, você pode achar que, por ver aquela pessoa todos os dias, você sabe muita coisa sobre ela. Porém, isso não está correto. Você apenas sabe um por sobre aquela pessoa. Você pode ter vivido com alguém durante cinco, dez ou vinte anos. Porém, você pode não ter olhado profundamente para dentro daquela pessoa para compreendê-la. Talvez tenha feito algo semelhante consigo. Você viveu com si mesmo a vida inteira. Achamos que já entendemos quem somos. Mas a menos que tenhamos nos escutado profundamente, com compaixão e curiosidade e sem julgamentos, talvez não nos conheçamos tão bem quanto pensávamos. 

Se esperar até que membros da família morram, será tarde demais para pedir que compartilhem mais sobre eles. É bonito ver uma criança de qualquer idade sentar-se ao lado do seu pai ou da sua mãe e perguntar-lhe sobre suas experiências, sofrimentos e fontes de felicidade. Apenas sente-se e escute. Quando respiramos conscientemente e nos ouvimos, nossa capacidade para escutar e olhar se expande profundamente, e podemos encontrar uma oportunidade para estabelecer uma comunicação e conexão maiores com nossos pais e entes queridos. 

Ao ver que a outra pessoa carrega um sofrimento dentro de si, a compaixão nasce em seu coração. Você pode querer fazer algo para ajudar aquela pessoa a sofrer menos. Sua escuta compassiva e sua fala amorosa já farão muito para mudar a situação. Nesse momento, você poderá sentar-se com a pessoa e, juntos, vocês poderão ter um insight sobre quais ações concretas, se esse for o caso, serão necessária para ajudar a encontrar uma solução. A escuta compassiva não é a única coisa que podemos fazer quando alguém está sofrendo, mas quase sempre é o primeiro passo. 

Fonte: A arte de se comunicar, Thich Nhat Hanh