Um dos significados de “Darma” ou “Dharma” é simplesmente verdade, especificamente aquela verdade que, quando realizada, leva a um estado de felicidade genuína e duradoura que não depende de estímulos agradáveis. Em termos de bem-estar geral, o Darma inclui verdades importantes sobre dieta, exercício e meditação, bem como prática espiritual. Na verdade, as teorias e práticas da medicina tibetana tradicional* são comumente vistas pelos que praticas como elementos integrante do Darma.
No contexto budista tibetano, existem vários critérios para discriminar o que é e o que não é Darma. Um critério para Darma é se uma teoria ou prática leva a um despertar espiritual. Do ponto de vista tradicional, outro critério para Darma é qualquer coisa que sustente o despertar espiritual nesta vida ou além desta vida. Usando esse critério, há formas de conduta e formas de ver a realidade que são benéficas além do contexto desta vida presente. Há um terceiro critério muito pragmático para determinar o que pode ser considerado Darma que não depende da crença na iluminação ou na reencarnação. Segundo esse critério, considera-se prática do Darma o engajamento com todos os eventos de maneira realista e favorável ao próprio bem e ao bem-estar dos outros. Quando as coisas estão indo bem, existe alguma maneira de se experienciar alegria e satisfação mais profundas? Quando as coisas vão mal, exista alguma coisa que possamos fazer para, ainda assim, melhorar o nosso bem-estar geral? Maneiras de produzir a realização e significado durante os inevitáveis altos e baixos da vida também são considerados Darma.
Esses três critérios definem o que é Darma, mas não são exclusivos do budismo. O Darma pode ser encontrado em caminhos não-budistas e mesmo fora de prática religiosa. O teste para que uma prática ou teoria seja considerada Darma é resultar em benefício durante as inevitáveis adversidades da vida.
Por um lado, podemos achar a prática do Darma difícil, demorada e repleta de problemas. De outra perspectiva, se o que realmente queremos é praticar o Darma, obteremos gratificação imediata. O Darma pode ser praticado em qualquer momento: em ocasiões felizes ou quando estamos doentes. Podemos praticá-lo sempre que quisermos. Mas se o Darma for praticado apenas como um meio para um fim como, por exemplo, obter mais dinheiro ou fazer com que as pessoas gostem de nós, então a gratificação será tardia.
O que significa “praticar o Darma”?
Não é uma técnica, não é apenas meditar. Você pode desenvolver um repertório de práticas do Darma para qualquer ocasião. Quando você começar a entender a riqueza e a diversidade da prática do Darma, verá que mesmo quando estiver estressado, cansado ou deprimido, ainda assim poderá praticar. Mesmo quando estiver morrendo, você poderá praticar o Darma. Você pode se tornar um hábil chef do Darma, usando receitas ricas e variadas para transformar qualquer situação em uma fonte de satisfação e felicidade. Se realmente desejar praticar o Darma, você desenvolverá cada vez mais a habilidade de praticar em uma variedade cada vez maior de situações. O Darma é como remédio; ele foi desenvolvido como auxílio para abandonas comportamentos e atitudes habituais que prejudicam a capacidade da mente de se curar. Quanto mais você praticar o Darma, mais ele permitirá que sua felicidade natural inata seja revelada.
B. Allan Wallace, em “Budismo com atitude: O Treinamento da Mente em Sete Pontos”.
* A medicina tibetana, conhecida como sowa rigpa, adotou os conhecimentos dos povos Nepaleses e a sabedoria da Índia, Pérsia e China. Ela considera que todos os fenômenos em que o corpo humano está incluído são baseados em cinco elementos que, em caso de desequilíbrio, propiciam o surgimento de doenças.