Quando comecei meus estudos da meditação, através do Lamrim, cheguei a uma etapa de contemplação e meditação chamada “Equanimidade”. Li do que se tratava e fiquei intrigado com a possibilidade de termos o mesmo nível de apreço, amor e compaixão por todos os seres, sejam eles próximos a nós, ou muito distantes, desconhecidos. Achei lindo, mas ao mesmo tempo muito desafiador.

Passado um tempo, conversando com um amigo muito querido que estava passando por um sofrimento intenso na época, disse a ele no final da conversa: “saiba que estarei aqui mais vezes se precisar. Amo você e desejo ver você cada vez melhor”. Então, ele indagou: “quando você diz que me ama é a minha pessoa, ou como amaria qualquer outro ser senciente?”.  Obviamente, mesmo que quisesse, eu não teria realizado a equanimidade a este ponto, mas confesso que fiquei sem palavras e refleti por muito tempo sobre aquilo.

Será que nos tornaríamos frios e deixaríamos de cultivar relacionamentos profundos por conta da equanimidade? Sem dar preferência a um grupo de pessoas, acabaríamos não sendo preferidos de ninguém? Seríamos injustos, em um momento de escolha entre beneficiar alguém que vem colaborando diretamente conosco, ou beneficiar uma pessoa até então desconhecida?

Hoje consigo entender um pouco mais sobre o assunto e percebo algumas delusões por trás da preferência: a vaidade, o apego e a aversão.

Ao elegermos os preferidos, buscamos ser preferidos também, assim alimentamos nossa vaidade.

Ao elegermos aqueles a quem alimentaremos, ou daremos presentes, buscamos ser presenteados também.

Ao defender alguém, buscamos ser defendidos também.

Trata-se de um pacto, em que nos organizamos em grupos, você me torna especial e eu torno você especial, assim nos defendemos do mundo.

O grande propósito de eliminarmos as “preferencias” não é nos tornarmos frios, mas muito amorosos com        TODOS. Para o budismo, tivemos infinitas vidas, de variadas formas, portanto todos os seres existentes já foram nossas mães, já foram muito especiais para nós em outras vidas. Quando temos equanimidade e olhamos todos com o mesmo o amor que olhamos para alguém que nos é próximo, abrimos nossos corações infinitamente para a bondade amorosa.

Este é um caminho de muita virtude, desapego e transformação da consciência.

Luís Fernando Rostworowski