A vida não é um mar de rosas. As coisas, as pessoas, as situações são coloridas com diferentes espectros. É um conjunto de subidas e descidas, de rupturas e conexões.

Isso pode ser muito bonito de se ver em uma poesia. Mas e quando a dor “pega”?

Esse é o desafio de ampliar a consciência para englobar uma perspectiva mais ampla.

A dor necessariamente é negativa? Vista do seu próprio ponto de vista, sim. No entanto, se observarmos de onde ela veio e o que ela quer nos ensinar, serve como uma propulsora de transformações positivas.

Às vezes, nos apegamos a situações especificas e acabamos tornando-nos elas. Se estou em sofrimento, acho que sou o sofrimento. Se estou triste, a vida se torna uma tristeza. Se estou alegre, acabo por esquecer que as mudanças ocorrem e com elas, difíceis transformações.

Porém, esse equívoco é o que nos faz sofrer. Esse filtro mental limitado, que faz com que nos tornemos apenas o pico ou apenas o rio, nos faz esquecer que, se olharmos a paisagem completa, vemos montanhas, rios, vales. E tudo isso compõe as nossas experiências.

Se trata da vida. A vida é assim, a natureza apresenta essa característica. As coisas nascem, vivem, se transformam e morrem. E isso serve para o nosso senso identitário também.

Quantas mortes você viveu em vida?

As mortes dos apegos, das ideias de quem você achava que era? Morte de uma expressão doente, que adorava buscar por problema. E, a morte de pessoas queridas, que implica em morrer uma parte nossa, a parte “do amigo, do filho, da mãe”.

E o que isso tem a ver com a vida?

A chave para compreendermos a morte é não tratarmos ela como uma entidade, algo sólido, fixo. Ela é processual. Ela acontece através da relação de diferentes fatores.

Vejamos: na vida, a morte está presente o tempo todo. É a impermanência de algo, que permite que algo funcione. É da morte da criança mimada, que nasce o adulto. É da morte do medo de crescer que permite a coragem frente aos desafios. É a morte das células do corpo que permite que outras nasçam e continue sustentando a nossa existência aqui.

Esse é o processo. Quando estamos em treinamento para o piano, por exemplo, vamos falhar e acertar algumas vezes. Isso é um processo de morte também. É a morte daquela expressão sua que não tinha a habilidade de tocar piano que está morrendo. E paralelo a isso, é o nascimento daquela expressão que tem o potencial de ser um grande pianista.

É inteligente fazer as pazes com a morte. Até porque, ela não vai deixar de existir só porque você a nega. Ela vai recobrar a sua função dentro da vida. Ela vai fazer você se transformar.

E é por isso que não é necessário que tudo esteja sempre bem, a toda hora. O desconforto, a angústia, a morte, faz parte de um jogo maior. E temos a liberdade de escolher compreender sua mensagem ou reforçá-la como algo inerentemente negativo.

Se buscamos sufocar o sofrimento ou nos maltratar por estarmos chateados ou confusos, fortalecemos a crença de que a morte é algo que existe sozinha, sem vida e, consequentemente, também reforçamos a nossa angústia.

Procure ser compreensivo com você e com os outros. A impermanência permeia tudo o que acontece. Todos estão em constante transformação, mesmo que as aparências mostrem o contrário. E isso inclui você, com seu próprio processo de crescimento e liberação de antigas dores.

Um grande abraço,

Daniel Danguy